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Psicologia de multidão. Parte 3
- 20.09.2020
- Publicado por: Oksana Maslennikova
- Categoria: Psicologia

Peculiaridades psicológicas de um indivíduo na multidão
Na multidão um indivíduo adquire uma serie de peculiaridades psicológicas que podem não ser características para ele se ele estiver em um estado de isolamento. Estas peculiaridades têm o impacto indireto em seu comportamento na multidão.
Ser humano na multidão é caracterizado pelos seguintes pontos:
Anonimato. Uma característica importante de autopercepção de um indivíduo na multidão é se sentir anônimo. No meio de “massa sem rosto”, agindo “como todos”, ser humano deixa de ser responsável por seus próprios atos. Por isso vem tanta crueldade que geralmente acompanha ações de uma multidão agressiva. Participante dessa multidão fica invisível nela. Isso dá uma impressão falsa de independência de laços organizacionais com quais ser humano, onde quer que ele esteja, está conectado a equipe de trabalho, família e outras comunidades sociais.
Instintividade. Na multidão um individuo se entrega ao poder de tais instintos aos quais em outras condições ele nunca se entregaria. O anonimato e a irresponsabilidade de um indivíduo na multidão contribuem para isso. Sua capacidade de processamento racional de informação percebida diminui. A capacidade de observação e critica que existe em indivíduos isolados, desaparece completamente na multidão.
Inconsciência. Personalidade consciente desaparece e se dissolve na multidão. O predomínio de personalidade inconsciente, a mesma direção de sentimentos e ideias, determinada pela convenção e o desejo de transformar imediatamente em ação as ideias sugeridas, são características para um indivíduo na multidão.
Estado de união (associação). Na multidão um individuo sente a força de associação humana que o impacta pela sua presença. O impacto dessa força se expressa ou em apoio e fortalecimento, ou em contenção e supressão do comportamento humano individual. Sabe-se que quando pessoas na multidão sentem pressão psíquica daqueles que estão em volta, podem fazer (ou, pelo contrário, não fazer) aquilo que eles nunca fariam (ou, pelo contrário, aquilo que com certeza fariam) em outras circunstâncias. Por exemplo, uma pessoa não consegue ajudar uma vítima, sem prejudicar a própria segurança, quando esta mesma multidão está hostil com essa vítima.
Gustave Le Bon nota o fato mais marcante que foi observado na multidão: sejam quais forem os indivíduos que a compõem, seu estilo de vida, atividades, caráter, inteligência, uma transformação deles em multidão é suficiente para que eles formem uma espécie de alma coletiva que obrigará eles sentir, pensar e agir completamente diferente do que cada um deles sentia, pensava e agia separadamente. Existem ideias e sentimentos que surgem e se transformam em ação apenas em indivíduos que formam uma multidão. Uma multidão espiritualizada representa um organismo temporário, feito de diferentes elementos e unidos por um instante.
Estado de transe hipnótica. Um individuo que ficou um tempo no meio de multidão, entra em estado que parece estado de um sujeito hipnotizado. Ele já não está mais ciente de suas ações. Ele, por estar hipnotizado, perde algumas capacidades, e outras ficam altamente tensas. Influenciado por convenção, adquirida na multidão, indivíduo age com impetuosidade irresistível que vai aumentando, pois a influência de convenção, igual para todos, aumenta com a força de reciprocidade.
Sensação de força irresistível. Um indivíduo na multidão adquire a consciência de uma força irresistível somente por causa de número de pessoas. Essa consciência o permite ser levado por instintos ocultos: na multidão ele não tem costume de frear esses instintos justamente porque a multidão é anônima e não responde por nada. O sentimento de responsabilidade que geralmente restringe certos indivíduos, completamente desaparece na multidão – aqui o conceito de impossibilidade não existe.
Contágio. Qualquer ação na multidão é contagiante de tal nível que individuo sacrifica facilmente seus interesses pelos interesses da multidão. Tal comportamento contradiz a própria natureza humana, e por isso ser humano é capaz de fazer isso somente quando ele faz parte da natureza.
Amorfo. Características individuais completamente desaparecem no meio de uma multidão. Desaparecem originalidade e singularidade pessoal.
Estrutura psíquica de cada pessoa se perde e aparece homogeneidade amorfa. Comportamento de um indivíduo na multidão é condicionado pelas mesmas atitudes, motivos e estímulos mútuos. Sem perceber tonalidades, individuo em uma multidão percebe todas as impressões como um todo e não conhece nenhuma transição.
Irresponsabilidade. Quando uma pessoa está no meio de uma multidão, ela perde completamente a sensação de responsabilidade que quase sempre é um fator de restrição para indivíduo.
Degradação social. Fazendo parte de uma multidão, ser humano como se estivesse descendo alguns degraus no seu desenvolvimento. Numa posição de isolamento – na vida comum ele provavelmente era uma pessoa inteligente, mas no meio de uma multidão ele é um bárbaro, ou seja, um ser instintivo. No meio de uma multidão individuo descobre a tendência à arbitrariedade, violência, ferocidade. Ser humano no meio de uma multidão também sofre uma diminuição de atividade intelectual.
Para uma pessoa de multidão também é característica uma percepção emocional elevada daquilo que ele vê e escuta em volta de si.
Comportamento de multidão
No comportamento de multidão se manifestam tanto influências ideológicas, através de quais algumas ações são preparadas, quanto mudanças em estados psíquicos que acontecem sob a influência de alguns certos acontecimentos ou informação sobre eles. Acontece um encaixe e uma realização prática de influências ideológicas e sociopsicológicas, sua penetração mútua em comportamento real de pessoas.
Sentimentos conjuntos, vontade e humor ficam emocionalmente e ideologicamente coloridos e amplificados muitas vezes.
Atmosfera de histeria em massa serve como um fundo, onde, na maioria das vezes, acontecem coisas trágicas.
Como já foi dito, um dos comportamentos de multidão é o pânico.
Pânico é um estado emocional que surge como consequência ou de défice de informação sobre alguma situação assustadora ou incompreensível, ou de muito excesso de informação que se manifesta em ações impulsivas.
Fatores que são capazes de gerar pânico são múltiplos. Sua natureza pode ser fisiológica, psicológica ou sociopsicológica. Existem casos de surgimento de pânico na vida cotidiana como resultado de catástrofes e desastres. Em pânico, pessoas são movidos por um medo inexplicável. Elas perdem autocontrole, solidariedade, elas correm pra lá e pra cá, não conseguem encontrar uma solução.
Fatores que influenciam fortemente o comportamento de multidão são os seguintes:
Superstição é uma crença falsa que surge sob a influência de medo, superado por pessoa. No entanto, pode ter medo supersticioso, cujos motivos não são reconhecidos. Muitas superstições estão relacionadas à crença em algo. Diversas pessoas são afetadas por elas, independente do seu nível cultural e intelectual. Na maioria das vezes superstição é baseado no medo e é amplificada no meio de uma multidão.
Ilusão é um tipo de conhecimento falso que está fixado na opinião pública. Ela pode ser o resultado de engano de órgãos de sentimentos. Neste contesto estamos falando de ilusões relacionadas à percepção de realidade social. Ilusão social é algo que parecido com a realidade, criado na imaginação de uma pessoa em troca de conhecimentos verdadeiros que por alguma razão ele não aceita. No final das contas, a base de ilusões é a ignorância que pode gerar efeitos inesperados e indesejados quando se manifesta no meio de uma multidão.
Preconceitos são conhecimentos falsos que se tornaram em crenças. Preconceitos são ativos, agressivos, assertivos, eles resistem desesperadamente ao conhecimento verdadeiro. Essa resistência é tão cega que uma multidão não aceita nenhum argumento que contradiz o preconceito.
Natureza psicológica de preconceitos se compõe de memória humana que capta não apenas uma opinião (conhecimento), ela guarda sentimentos que acompanham esse sentimento, essa emoção, essa atitude. Como consequência, a memória é altamente seletiva. Fatos e acontecimentos que contradizem uma determinada opinião, nem sempre são analisados no nível de consciência. E, claro, são descartados sob a influência de emoções que geralmente dominam uma multidão.
Em casos quando estereótipos generalizados de opinião pública estão saturados de emoções, pode surgir uma psicose coletiva, durante qual pessoas são capazes de cometer atos mais imprudentes, elas deixam de ter a consciência de todas as consequenciais de seus atos.
Fatores que determinam a natureza de opiniões e crenças de multidão têm dois tipos: fatores diretos e fatores distantes. Fatores diretos que influenciam uma multidão agem na parte já preparada pelos fatores distantes. Sem isso eles não teriam causado resultados tão devastadores, com quais muitas vezes uma multidão enfurecida surpreende. Fatores que podem impressionar a própria multidão, sempre apelam para seus sentimentos e não para a razão.
Na próxima parte vamos analisar os mecanismos para controlar uma multidão.
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